domingo, 19 de janeiro de 2014

bendita matéria


Bendita sejas tu, áspera Matéria,
gleba estéril, duro rochedo,
tu que não cedes a não ser pela violência,
e nos forças a trabalhar, se quisermos comer.

Bendita sejas tu, perigosa Matéria,
mar violento, paixão indomável,
tu que nos devoras,
caso não te acorrentemos.

Bendita sejas tu, poderosa Matéria,
Evolução irresistível,
Realidade sempre nascente,
tu que a cada momento fazes explodir
as nossas molduras,
obrigando-nos a perseguir sempre mais longe
a Verdade.

Bendita sejas tu, Matéria universal,
Duração sem limites,

Éter sem margens
– Tríplice abismo das estrelas,
dos átomos e das gerações –,
tu que transbordas e dissolves nossas
estreitas medidas,
revelando-nos as dimensões de Deus.

Bendita sejas tu, Matéria impenetrável,
tu que, estendida em todo lugar
entre nossas almas e o Mundo das essências,
nos deixas lânguidos com o desejo
de penetrar o véu sem costura dos fenômenos.

- Teilhard de Chardin, via

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