Em suas memórias, André Malraux concluiu que o mais raro no mundo é o homem maduro. Perguntei a algumas amigas sobre essa afirmação e logo sorriram com um ar de superioridade. Estão certas, nós, homens, tendemos a ser mais infantis, em geral demoramos a cuidar sozinhos de nossas vidas. É todo um aprendizado conviver consigo mesmo, suportar certa solidão e amar a liberdade e a independência. Entretanto, os jovens, em geral, não gostam da palavra maduro, pois escutam muitas vezes, de nós mais velhos, que ainda não amadureceram. Recordo, por exemplo, que, em tempos estudantis, nada era mais irritante que a frase: “Os jovens são incendiários, e os velhos, bombeiros”. Afirmação que atribuíamos aos conservadores, invejosos da juventude. Por sua vez, será que os jovens mais exaltados das manifestações de junho do ano passado ao envelhecerem vão mudar? Creio que sim, aprenderão outras formas de luta, como ocorreu com a geração 68 do movimento estudantil, ou podem se tornar céticos. São frequentes as mudanças de se pensar a vida ao longo do caminho.
A palavra maduro não existe nos dicionários de psicanálise que conheço, é até evitada no mundo Psi, pois cada pessoa tem seu conceito de maturidade; a palavra se presta a um ideal normativo. Uma pessoa madura pode ser entediante, empobrecida e adaptada a uma vida esvaziada de sentido. Agora, se quisermos ir mais além do que disse Mandela: “Saí maduro” da prisão, ou Malraux sobre a raridade do homem maduro, arriscaria uma ideia. À medida que vamos envelhecendo, convém fazer as pazes com o nosso passado, os pais, e consigo mesmo. Só assim se pode desenvolver o conceito africano de ubuntu - fraternidade. Na verdade, cada vez mais precisamos de parcerias em tempos de tantas mutações que ainda não podemos entender. Estamos necessitando de banhos de humildade, convém pensar a velha sabedoria zulu: Umuntu ngumuntu ngabantu - Uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas.
- Abrão Slavutzky, psicanalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário