sábado, 4 de janeiro de 2014

o valor da solidão: o silêncio diz nossos desejos mais autênticos


Eugenio Borgna, psiquiatra italiano e catedrático da Universidade de Milão, em seu livro La solitudine dell´anima (Ed. Feltrinelli, 198 páginas - "A Solidão da Alma", inédito no Brasil), faz um elogio da solidão e do silêncio, fundamentos da criatividade humana e via de encontro do indivíduo consigo mesmo.


Em entrevista concedida ao jornal La Republica em 18 de janeiro de 2011, traduzida por Moisés Sbardelotto para o Instituto Humanitas Unisinos e parcialmente reproduzida a seguir*, distinguiu solidão de isolamento e falou sobre o valor da solidão como experiência indispensável para qualquer transformação individual e social.

Estar sozinho não quer dizer sentir-se sozinho, mas separar-se temporariamente do mundo das pessoas e das coisas, das ocupações cotidianas, para entrar novamente na própria interioridade e na própria imaginação – sem perder o desejo e a nostalgia da relação com os outros: com as pessoas amadas e com as tarefas que a vida nos confiou.

Estamos isolados, ao contrário, quando nos fechamos em nós mesmos, porque os outros nos rejeitam ou mais frequentemente no rastro da nossa própria indiferença, de um egoísmo tétrico que é o efeito de um coração árido ou seco.

Na solidão, tão rica de vida interior, o silêncio tem um eros e uma linguagem próprios: diz as nossas melancolias, as angústias, as esperanças não expressadas, os temores, as expectativas. Diz os nossos desejos mais autênticos. O silêncio tem mil modos de manifestar alguma coisa e de escondê-la, de indicar e de aludir, de se aproximar e de se afastar, de fascinar e de intimidar.

Ao contrário, quando estamos isolados, separados do mundo, mônadas de portas e janelas fechadas, não temos pensamentos e emoções a serem transmitidos aos outros. Sem mais palavras, aprofundamo-nos em um mutismo que tem uma única dimensão: a da insignificância.

Um aspecto emblemático da condição humana de hoje e da juvenil em particular é a tendência aos contatos "desemocionalizados", que respondem às necessidades do momento e se incineram sem deixar rastro no coração e na memória. Não há dúvida de que hoje a solidão é sempre mais difícil de ser salva e de ser vivida, porque somos arrastados por um redemoinho de sensações exteriores que não nos dão nem mais o tempo para pensar em nós mesmos, para nos confrontar com os nossos segredos, com (...) as emoções que estão em nós, com as coisas que não queremos lembrar e voltam à memória, com a autenticidade ou a inautenticidade das relações que temos com os outros: no fundo, com o mistério do viver e do morrer.

A solidão, como eu a entendo, não é só uma experiência interior de poucos eleitos, mas, ao contrário, é uma matriz ideal de mudança relacional e cultural, política e social e, em última instância, razão de vida historicamente significativa.

É indispensável reencontrar os valores inalienáveis da reflexão crítica e da solidariedade, do empenho ético na política, do respeito radical das pessoas e das suas diferenças – transferindo a consciência desses valores para aquela que é a ação cotidiana, o testemunho pessoal de cada um de nós.

Quanto espaço temos aberto para o silêncio e a solidão frutuosa em nossas vidas?

[Aliás, está aí um link muito interessante: Do Nothing for 2 Minutes (algo como "2 Minutos sem Fazer Nada"). Um bom exercício para cada um avaliar como anda a sua capacidade de silenciar. :-)]

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*Leia o artigo na íntegra aqui.

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