sábado, 9 de fevereiro de 2013

carnaval: que desejos te seduzem?


De Katia Marko, jornalista e terapeuta bioenergética, no blog Outras Palavras (leia na íntegra aqui):

Chegou o Carnaval. Momento tão esperado por muitos. Espaço para soltar o freio, viver fantasias, desfrutar o prazer. Pacatos cidadãos experimentam o sonho de virar reis e rainhas. Desejos inconscientes escapam pela janela agora aberta com o consentimento social. Tudo vale na busca do prazer. (...)

Mesmo que todos nós busquemos o prazer, esta é uma palavra que evoca sentimentos conflitantes. Por um lado esta associada com o que é “bom”. Mas, a maioria das pessoas acharia desperdício uma vida devotada ao prazer. Temos medo que o prazer nos leve a caminhos perigosos, onde esqueceríamos deveres e obrigações, deixando que nosso espírito se corrompesse pelo prazer descontrolado.

No livro Prazer, uma abordagem criativa da vida, o médico-psiquiatra Alexander Lowen explica que todos nós queremos que a vida seja mais do que a luta pela sobrevivência, e deveria ser agradável, e sabemos que todos têm amor a dar. “Mas quando o amor e a alegria desaparecem, sonhamos com a felicidade e procuramos a diversão. Não conseguimos perceber que o alicerce de uma vida alegre é o prazer que sentimos em nossos corpos, e que sem essa vitalidade, ela se transforma na cruel necessidade de sobrevivência, onde a ameaça de tragédia nunca está ausente”.

Na real, em nossa cultura, todos receiam o prazer. “Como a cultura moderna é dirigida mais pelo ego do que pelo corpo, o poder se transformou no principal valor, reduzindo o prazer a uma situação secundária. A situação do homem moderno se assemelha à de Fausto que vendeu a alma a Mefistófeles em troca de uma promessa que nunca poderá ser cumprida. Apesar da promessa de prazer ser uma tentação do diabo, o prazer não pode ser proporcionado pelo diabo”, diz Lowen.

Segundo ele, todos nós, como o Dr. Fausto, estamos prontos a aceitar as tentações do demônio. Ele está dentro de cada um sob a forma de um ego que nos acena com a realização de um desejo desde que o obedeçamos. A personalidade dominada pelo ego é uma perversão diabólica da verdadeira natureza humana. O ego não existe para ser mestre do corpo, mas sim seu servo leal e obediente. “O corpo, ao contrário do ego, deseja prazer e não poder. O prazer é a origem de todos os bons pensamentos e sentimentos. Quem não tem prazer corporal se torna rancoroso, frustrado e cheio de ódio.

O pensamento é distorcido e o potencial criativo se perde. A perda se torna autodestrutiva. O prazer é a força criativa da vida. A única força capaz de se opor à destrutividade em potencial do poder”.

Para Lowen, o prazer e a criatividade estão relacionados dialeticamente. Sem prazer, não haverá criatividade. Sem uma atitude criativa diante da vida não haverá prazer. “Essa dialética surge do fato de ambos serem aspectos positivos da vida. A pessoa viva é sensível e criativa. Através da sensibilidade coloca-se em harmonia com o prazer e através do impulso criativo procura sua realização. O prazer na vida encoraja a criatividade e a comunicação, e a criatividade aumenta o prazer e a alegria de viver”.

Então, para vivermos plenamente o prazer e a criatividade temos que mexer nas tensões do nosso corpo, respirar profundamente e expressar nossas emoções. Essa é a proposta do Carnaval na comunidade em que moro: prazer com consciência.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

waterfall


Waterfall
Nothing can harm me at all
My worries seem so very small
With my waterfall

I can see
My rainbow calling me
Through the misty breeze
Of my waterfall

Some people say
Daydreaming's for all the
Lazy minded fools
With nothin' else to do
So let them laugh, laugh at me
So just as long as I have you
To see me through
As long as I have you

Waterfall
Don't ever change your ways
Fall with me for a million days
Oh, my waterfall

Michael Kiwanuka em cover de Jimi Hendrix.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

a pedra fundamental



I am an orphan, alone, yet i am found everywhere. I’m one, but contrary to myself. A youth, but an old man at the same time. I have known neither father nor mother, because I must be lifted up from the depths like a fish or I fall down from the sky like the white stone. In woods and on mountains I’m walking about, but I lie hidden in the innermost of Man. I’m mortal for everyone, and yet I’m not touched by the mutation of time.

"Sou um órfão, sozinho, mas encontro-me por toda parte. Sou uno, mas contrário a mim mesmo. Um jovem mas, ao mesmo tempo, velho. Não conheci nem pai nem mãe, pois devo erguer-me das profundezas, como um peixe, ou cair dos céus como a pedra branca. Nos bosques e montanhas eu caminho, mas oculto-me no âmago do Homem. Sou mortal para todos, e não obstante não sou tocado pela mutação do tempo."

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

o olho é a janela da alma, o espelho do mundo


"Tem que poder imaginar para depois saber intuir se o que você imaginou está certo ou errado. Porque há uma distância entre a imaginação e o próprio fazer."

- Fayga Ostrower, em depoimento para o documentário Janela da Alma, na íntegra abaixo.

O título deste post é uma citação de Leonardo da Vinci.

o legado da crise atual: rever e reinventar conceitos


Nutro a convicção, partilhada por outros analistas, de que a crise sistêmica atual nos deixará como legado e desafio a urgência de repensar a nossa relação para com a Terra, para com os modos de produção e consumo, reinventar uma forma de governança global e uma convivência que inclua a todos na única e mesma Casa Comum. Para isso é forçoso rever conceitos-chaves, que como bússola nos possam apontar um novo norte. Boa parte da crise atual se deriva de premissas falsas.

O primeiro conceito a rever é o de desenvolvimento. Na prática ele se identifica com o crescimento material, expresso pelo PIB. Sua dinâmica é ser o maior possível, o que implica exploração desapiedada da natureza e a geração de grandes desigualdades nacionais e mundiais. Importa abandonar esta compreensão quantitativa e assumir a qualitativa, esta sim como desenvolvimento, bem definido por Amartya Sen (prêmio Nobel) como "o processo de expansão das liberdades substantivas”, vale dizer, a ampliação das oportunidades de modelar a própria vida e dar-lhe um sentido que valha a pena. O crescimento é imprescindível; pois, é da lógica de todo ser vivo, mas só é bom a partir das interdependências das redes da vida que garantem a biodiversidade. Em vez de crescimento/desenvolvimento deveríamos pensar numa redistribuição do que já foi acumulado.

O segundo é o manipulado conceito de sustentabilidade, que, no sistema vigente, é inalcançável. Em seu lugar deveríamos introduzir a temática, já aprovada pela ONU, dos direitos da Terra e da natureza. Se os respeitássemos, teríamos garantida a sustentabilidade, fruto da conformação à lógica da vida.

O terceiro é o de meio-ambiente. Este não existe. O que existe é o ambiente inteiro, no qual todos os seres convivem e se interconectam. Em vez de meio ambiente faríamos melhor usar a expressão da Carta da Terra: comunidade de vida. Todos os seres vivos possuem o mesmo código genético de base, por isso todos são parentes entre si: uma real comunidade vital. Este olhar nos levaria a ter respeito por cada ser, pois tem valor em si mesmo para além do uso humano.

O quarto conceito é o de Terra. Importa superar a visão pobre da modernidade que a vê apenas como realidade extensa e sem inteligência. A ciência contemporânea mostrou e isso já foi incorporado até nos manuais de ecologia, que a Terra não só tem vida sobre ela, mas é viva: um superorganismo, Gaia, que articula o físico, o químico e as energias terrenas e cósmicas para sempre produzir e reproduzir vida. Em 22 de abril de 2010 a ONU aprovou a denominação de Mãe Terra. Este novo olhar, nos levaria a redefinir nossa relação para com ela, não mais de exploração; mas, de uso racional e respeito. Nossa mãe a gente não vende nem compra; respeita e ama. Assim com a Mãe Terra.

O quinto conceito é o de ser humano. Este foi na modernidade pensado como desligado, fora e acima da natureza, fazendo-o "mestre e senhor” dela (Descartes). Hoje o ser humano está se inserindo na natureza, no Universo e como aquela porção da Terra que sente, pensa, ama e venera. Essa perspectiva nos leva a assumir a responsabilidade pelo destino da Mãe Terra e de seus filhos e filhas, sentindo-nos cuidadores e guardiães desse belo, pequeno e ameaçado Planeta.

O sexto conceito é o de espiritualidade. Esta foi acantonada nas religiões quando é a dimensão do profundo humano universal. Espiritualidade surge quando a consciência se apercebe como parte do Todo e intui cada ser e o inteiro Universo, sustentados e penetrados por uma força poderosa e amorosa: aquele Abismo de energia, gerador de todo o ser. É possível captar o elo misterioso que liga e re-liga todas as coisas, constituindo um cosmos e não um caos. A espiritualidade nos confere sentimento de veneração pela grandeur do universo e nos enche de autoestima por podermos admirar, gozar e celebrar todas as coisas.

Temos que mudar muito ainda para que tudo isso se torne um dado da consciência coletiva! Mas é o que deve ser. E o que deve ser tem força de realização.

- Leonardo Boff, via

Leia também: "O fator humano na crise ambiental", aqui, e "A futuronomia do alimento", aqui

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

a recompensa

Trabalho de graduação de estudantes
da escola dinamarquesa Animation Workshop (via).

Uma bela jornada heroica.

"Um monge pôs-se a caminho de uma longa peregrinação para encontrar Buda.

Levou muitos anos em sua busca até alcançar a terra onde dizia-se que vivia Buda. Ao cruzar o sagrado rio que cortava este país, o monge olhava em torno enquanto o barqueiro conduzia o bote. Ele percebeu algo flutuando em sua direção. Quando o objeto chegou mais perto, ele viu que era um cadáver - e que o morto era ele mesmo!

O monge perdeu todo o controle e deu um grito de dor à visão de si mesmo, rígido e sem vida, flutuando suavemente na corrente do grande rio.

Neste instante percebeu que ali estava começando sua busca pela liberação...

E então soube, definitivamente, que sua procura por Buda havia terminado."

(Via)

pétala


pétala
não caia esse orvalho
olho
não perca essa lágrima
auras que já se foram
grato pela graça
a graça que eu acho
em tudo que fica
por tudo que passa

- Paulo Leminski (via)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

onde somente os pequeninos conseguem entrar


Numa aldeia do Senegal, África Ocidental, nasce Kiriku. Ele nasce minúsculo, mas tem uma importante missão: libertar seu povo da malvada feiticeira Karabá. Kiriku enfrenta grandes perigos e se aventura por lugares que somente os pequeninos conseguem entrar. Kiriku, com seus dons especiais, trilha caminhos da ética e dos valores e aborda de forma simples e direta questões como a verdade, a dor, o amor, o perdão, a indiferença, o medo, a amizade e a transformação pela atitude. A lenda africana é rica em ensinamentos e graciosamente compartilha a cultura e a tradição do povo africano.

Longa-metragem de animação franco-belga de 1998, dirigido por Miguel Ocelot.

(Fonte: Adital)

'blink'

sábado, 2 de fevereiro de 2013

o poder do mito, joseph campbell & bill moyers

Via

O antropólogo Joseph Campbell realizou um estudo detalhado sobre a presença da mitologia no universo humano e chegou a interessantes conclusões: todas as narrativas, conscientes ou não, surgem de antigos padrões do mito e todas as histórias podem ser traduzidas e dissecadas na Jornada do Herói. Em seus estudos sobre mitos mundiais, ele descobriu que todos eles são a mesma história, porém contadas com inúmeras variações e adaptadas à realidade de quem a conta. Seus detalhes são diferentes em cada cultura, mas, fundamentalmente, são sempre iguais. De acordo com Campbell, toda cultura antiga e pré-moderna utilizava uma técnica ritmada para contar histórias retratando os protagonistas e antagonistas com certas motivações e traços de personalidade constantes, num padrão que transcende as fronteiras da língua e da cultura.

(Fonte: Omni Doc)


1. A Mensagem do Mito

2. A Saga do Herói

3. Os Primeiros Contadores de Histórias

4. Sacrifício & Felicidade

5. Amor e a Deusa

6. Máscara da Eternidade


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

por uma espiritualidade não religiosa

Espiritualidade é não esquecer que a retina da alma retém imagens alegres e tristes. É possível guardar o rápido instante como uma relíquia. Mesmo fugaz como um raio, o minuto vivido tem a capacidade de prolongar alegrias. Basta um segundo para o ano se desdobrar em muitos. Também, punir-se com uma imagem que se repete anos a fio pode gerar culpa doentia.

Cheiros despertam sentidos inimagináveis. Em nossa animalidade, somos guiados por odores. O nariz consegue ressuscitar pessoas, lugares, eventos. O olfato é matéria prima da saudade. A cozinha materna, o lençol da infância, o perfume da viagem, tudo pode ser fonte de vida ou de morte.

É sagrado memorizar rostos. Felicidade tem pouco a ver com lugares. As pessoas que nos tocaram em determinados lugares ou praças são responsáveis por nossas histórias – boas ou más.

Não podemos esquecer de entalhar certas palavras no coração. As palavras escritas, sussurradas ou gritadas, geram alegria, decepção, tédio – mulheres e homens não vivem só de pão, mas de substantivos e verbos.

Espiritualidade depende de uma visão retrospectiva. A vida que o rio chamado tempo levou, não jaz cristalizada. O passado de todas as pessoas continua aberto, esperando para ser ressignificado por decisões presentes. Dependendo da postura atual, o bem outrora vivido pode se transformar em péssima memória. Por outro lado, a vida percebida na Graça tem a capacidade de revolver o passado horroroso para que um futuro inédito aconteça.

Soli Deo Gloria

- Ricardo Gondim, em seu blog (aqui)